Povo de Deus a caminho para onde?
No mês de novembro, a Igreja além dos grandes santos como são Carlos Borromeu, celebra duas festas de grande importância para compreendermos a realidade de sua caminhada: a festa de “Todos os Santos” no dia 01 e a de “Todos os fiéis falecidos” conhecida como “Dia de Finados” no dia 02 de novembro.
A Igreja não é uma instituição meramente humana. Ela nasce da vontade de Cristo: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” [Mt 16,18]. Somos membros da Igreja, mas ela sendo formada por homens é a vontade do Cristo. A Igreja é divina. E sendo divina não perece, não termina com o fim da vida biológica.
Compreendemos a Igreja em três momentos distintos, mas una na sua origem, fundação e alma: Cristo. Do lado aberto de Cristo nasce a Igreja com os sacramentos, Ele a fundou e a mentem viva e santa pela ação do Espírito Santo. Assim como o povo do Antigo Testamento viveu três momentos na sua história, a saber: cativeiro no Egito, caminhada da libertação rumo à terra da promissão e posse da terra, a Igreja vive essa realidade.
Aqui, no tempo histórico, no mundo vive a realidade da caminhada. Somos a Igreja peregrina, vivendo nosso tempo, a luta, construindo o Reino já presente pela ação de Cristo no seu novo povo eleito. Reino presente de forma misteriosa, mas não consumado ainda. Somos povo a caminho. Rezamos, cremos, caminhamos na mesma fé, na mesma esperança e na mesma caridade.
O que nos alimenta são o Pão da Eucaristia e a força dos demais sacramentos, nos formam e fortalece o vigor da Palavra e a coragem do testemunho.
No dia 01 de novembro celebramos a “comunhão dos santos”, aqueles que já alcançaram a promessa. Cremos na ressurreição, porque “está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o julgamento” [Hb 9,27]. Após a morte vem o julgamento segundo nossa fé e obras testemunhadas na caridade. Nesse dia celebramos a Igreja Triunfante, a Igreja do céu, nossa mãe. São os cristãos que viveram sua fé e muitas vezes a testemunharam não sem grandes sofrimentos e com o derramamento de sangue. São os santos que contemplam eternamente a face de Deus e sua glória. Quem são eles? São nossos irmãos. Aqui a Igreja celebra não somente os santos canonizados, reconhecidos oficialmente, mas todos aqueles que em qualquer parte do mundo e de qualquer povo, mesmo não sendo conhecidos, foram associados à glória do Senhor. Eles intercedem por toda a Igreja e pelo mundo e a fortalecem com sua caridade e testemunho de vida. São santos por vocação e porque aceitaram o chamado divino. Foram marcados em suas frontes [Ez 9,4.6] e “venceram o dragão pela palavra e pelo sangue do Cordeiro” [Ap 12, 11].
No dia 02 de novembro celebramos a Igreja Padecente, a realidade do Purgatório. O que significa isso, “purgatório”? A Igreja crê e ensina que os que morrem, ou melhor que nascem para vida plena sem mancha de pecado, são introduzidos imediatamente na glória do seu Criador [Lc 23,42-43, p. ex.]. Mas há os que partiram desta vida ainda marcados pelo pecado e tiveram os olhos da alma obscurecidos pela mancha do mal e estão diante da misericórdia do Salvador sendo iluminados pela luz beatífica a fim de serem associados à plenitude da comunhão dos santos. Esses nossos irmãos são fortalecidos para a escolha decisiva por obras de misericórdia que possamos fazer por eles pois participamos da mesma esperança, fé e caridade. Dois textos bíblicos nos dão a luz sobre este ponto da doutrina católica a respeito da salvação: 2Mcb 12,43-46 e Mt 12,32. O primeiro revela a fé na ressurreição, a oferta de sacrifícios e oração pelos mortos e o segundo texto a possibilidade de perdão depois da morte. É por isso que celebramos a santa Missa em sufrágio dos fiéis falecidos e oferecemos por eles nossas preces. Também nesse dia a santa Igreja com o poder das chaves oferece a indulgência aos falecidos. De nós e dos santos da Igreja Triunfante recebem a força e o testemunho da caridade para alcançarem a glória eterna.
Esta é a realidade que nossa mãe a Igreja crê e professa. Peçamos a graça da intercessão dos Santos e rezemos por nossos irmãos falecidos. Santo e piedoso costume!
Padre José Altino Brambilla osb