O Tempo da Quaresma se inicia na quarta-feira de cinzas e termina na quinta-feira da ceia do Senhor [quinta-feira santa] antes das vésperas.
É tempo de preparação para a santa Páscoa do Senhor Jesus. E qual é a melhor preparação? Embora façamos uma preparação externa que tem seus significados, o mais importante é aquela preparação interna, a que transforma a pessoa a partir da alma, do coração. Pessoas transformadas na sua essência são capazes de realizar grandes mudanças no mundo exterior.
Seguindo o evangelho [Mateus 6,1-18], a igreja nos propõe três pontos de ação para a conversão, a saber: oração, jejum e esmola.
Qual o significado das três? Oração, jejum e esmola por si próprios, sem alma, ou seja, sem caridade, sem atitudes cristãs, são vazias em si mesmas.
A oração é via de conversão numa direção que é o verdadeiro sentido do ser humano: encontrar-se com Deus. Os que vivem “neste vale de lágrimas” só encontram o sentido de suas vidas no Alfa pascal: Jesus Cristo. Assim sendo, a oração é o caminho para chegar até o mundo de Deus. Ela revela ao humano a sua incapacidade do absoluto sem o Absoluto verdadeiro. Então o homem caminha na oração em busca de sua fonte e de seu fim último. Rezar é mais do repetir fórmulas, é abrir o coração para que Deus levante do pó aquele que é pó. É descobrir que se é uma semente semeada no campo do mundo e que precisa crescer com esperança e produzir frutos de coisas boas para dar sabor bom a um mundo cansado e perdido nas suas definições.
Dizem que a oração é “a fraqueza de Deus e a força do homem”! O homem mortal sente que Deus se inclina das alturas para estender sua mão para erguê-lo do pó e fazê-lo assentar-se ao seu lado.
Quem reza se salva, diz a tradição da Igreja. Pela oração se fala com Deus e acima de tudo se ouve, sobretudo no silêncio religioso, o voz do Criador a dizer: ‘hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor” [Sl 94].
A esmola é caminho de encontro ao outro. Muito mais do que dar do que sobra e que não nos faz falta, a esmola é dar ao próximo daquilo que tenho e que ele necessita para manter sua dignidade. Quem dá esmola estende sua mão como continuação do coração para chegar a quem está caído e necessita ser tratado com dignidade. A esmola pode ser o dinheiro, comida, roupa, acolhimento, remédios, um bom conselho, uma visita ao enfermo gastando o tempo precioso com quem sente dor e está muitas vezes sozinho. A esmola lembra da fraternidade e ensina que somos todos irmãos. Muitas vezes se aprende pela esmola que muitas vezes o que se julga como estranho ou inimigo é alguém precisando de um braço estendido para ajudar o irmão necessitado.
O jejum é a via de encontro consigo mesmo. Privar-se de algo do qual temos necessidade é um ato de grandeza quando visto de forma a buscar conhecer-se e descobrir nossos limites. Quem sabe até onde pode chegar e alcançar sabe onde buscar auxílio para ir mais além. Temos fome e sede do infinito, mas somos finitos, limitados! Sentindo falta de algo essencial, privado do que temos necessidade [seja alimento, conforto, bebida…] nos conhecemos melhor e nos abrimos a ser auxiliados, ajudados, superando o egoísmo e a auto-suficiência que tanto nos afastam de Deus e dos irmãos.
Saibamos usar de modo sóbrio e cristão de todos os e dons bens que temos. Sejamos solidários e fraternos com quem está conosco no caminho de Emaús.
Deus nos conceda uma santa quaresma e que cheguemos transformados e humanizados à santa Páscoa e celebremos com o vinho da alegria a ressurreição de Cristo que é a antecipação de nossa vitória sobre o pecado, o mal e a morte. Assim seja, amém.
Padre José Altino Brambilla osb